quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Crimes cometidos pela ditadura militar precisam ser revelados, afirma Pugliesi

Ex-oficial do Exército conta como foi a “operação” que resultou no fuzilamento do estudante de Apucarana Antônio dos Três Reis de Oliveira em 17 de maio de 1970

Os crimes praticados contra os brasileiros durante a Ditadura Militar (1964-1985) precisam vir à tona, precisam ser revelados para o conhecimento público. A afirmação é do deputado Waldyr Pugliesi, presidente estadual e líder do PMDB na Assembleia Legislativa, ao comentar reportagem desta quarta-feira (8) do jornal Folha de São Paulo.

Na matéria, o ex-oficial do Exército Maurício Lopes Lima revela detalhes sobre a operação e o fuzilamento do estudante de Apucarana, Antônio dos Três Reis de Oliveira e sua companheira Alceri Maria Gomes da Silva. “Só hoje, 40 anos depois do dia 17 de maio de 1970, temos alguma informação sobre aquela atrocidade cometida pelos militares no bairro Tatuapé, em São Paulo”, disse Pugliesi.

O deputado, que conheceu e ajudou Antônio dos Três Reis (que dá nome ao colégio na foto acima), lembra que até hoje não foram localizados sequer os ossos do estudante para que a família possa enterrá-los dignamente. No depoimento inédito, o ex-oficial falou sobre a atuação durante o regime militar.

Antônio dos Três Reis era da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e morreu metralhado no aparelho (esconderijo), junto com Alceri Maria, militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). O estudante era irmão do jornalista Baltazar Eustáquio de Oliveira, o Taquinho e após sofrer perseguições por integrar movimentos estudantis, decidiu ir para a clandestinidade como milhares de jovens que não aceitavam o regime discricionário.

VIOLÊNCIA – Em novembro Maurício Lima foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de participar de atos de violência contra a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), e outros 19 presos políticos. Ele foi denunciado por vários, mas nega tudo.

Na reportagem o ex-oficial, a época chefe de buscas da Oban (Operação Bandeirante), conta sua versão sobre o ocorrido. Lima confirmou ter comandado a operação e alegou que Antônio teria atirado contra ele e classificou as duas mortes como "inevitáveis".

“Todas as equipes já tinham saído quando lá chegou não sei quem. E disse 'Olha, o pessoal tá no aparelho, no Tatuapé... e no meio do corredor tem um alçapão'”, relatou.

“Fui procurar o alçapão, encontrei (…) Peguei um canivete, enfiei, tirei e saiu um cara que me deu seis tiros. Saltei para trás (fazendo barulho de tiros), e ele atirava. Eu acho que esse era o Antônio Três Rios (sic)”, informa o jornal.

O ex-oficial contou que havia uma moça no local, que também foi atingida, mas encaminhada ao hospital com vida. Apesar de admitir a presença na operação, ele disse não ter atirado. Preferiu responsabilizar agentes chefiados pelo capitão Francisco Antônio Coutinho e Silva, já falecido. “Não era minha equipe”, concluiu. Lima não esclareceu porque estaria acompanhado de agentes subordinados a um colega.

CONTEXTO – Antônio dos Três Reis era estudante de economia e tinha 21 anos. O Exército nunca admitiu sua morte. Alceri, 26, era operária. O primeiro documento oficial sobre a morte deles, um laudo do IML localizado em 1991, diz que ele foi abatido com um tiro no olho. O laudo de Alceri contabiliza quatro tiros, sendo dois pelas costas.

O livro “Direito à Memória e à Verdade”, publicado pela Presidência da República em 2007, afirma que, segundo ex-presos políticos, eles foram baleados “por agentes da Oban chefiados pelo capitão Maurício Lopes Lima”.

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